Antes que aconteça um acidente,
um milagre,
deixe-me olhar mais uma vez....
antes que esqueçamos do que nos importa
ou mesmo depois de lembrarmos que não esquecemos,
mas trocamos, quero deixar-te à porta, em silêncio e segurança.
Antes mesmo que a vida elabore outro plano mirabolante
para o sem nada que existe aqui,
e diga, com todas as letras,
que novos tempos virão,
entregue a mim o teu calor
por um breve minuto de morte
para então instalarmos novos regimes
de desobediência.
Antes que o medo acabe
e o resto invada nossas casas,
derrama óleo no oceano,
destrói cada floresta
com as cartas que nos dá o amor romântico
de todo dia.
Anda na linha bamba
que sustenta o teu sol
e ri disso à vontade
porque é só graça mesmo
que poderás sentir.
Antes que voltem a usar rimas que combinem com os sapatos,
que te coloquem branca como cadáver num altar,
que te adorem como a virgem insuportável,
Dá tu um passo em falso,
samboleia uma valsa qualquer
para nosso justo delírio,
porque quero mais que tudo delirar...
Antes mesmo que apaguem por aí o direito
inalienável de enlouquecer,
desenhar nas flores a lua que atravessa;
Vai buscar os regimentos
e todas as virtudes,
vamos deixá-los
reger a banda que desafina.
E ficaremos sentados na calçada
gargarejando à toa o vinho sublime
em nós fermentado a cada dia,
como nômades famintos a ver na cara o que exterminará o mundo
ao ritmo descontrolado de nossas passadas.
4 comentários:
É isso aí Leo, um brinde ao vinho que fermentamos dentro da gente, a cada dia. Um brinde à poesia (à poesia possível). Eiliko
léo romântico, fazia tempo que esse não aparecia, hehe
bela poesia menezes.
bjos
"*anda mesmo, ritmo ...de nossas passadas...lindo Leo! Um acelerar de dias, um sossegar do vislumbre...Boêmio!!! Viva o Poeta!
B.
Poema pré-apocalíptico... nostálgico por antecipação. Me emocionei de verdade.
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