20/05/2009

anda mesmo

Antes que aconteça um acidente,

um milagre,

deixe-me olhar mais uma vez....

antes que esqueçamos do que nos importa

ou mesmo depois de lembrarmos que não esquecemos,

mas trocamos, quero deixar-te à porta, em silêncio e segurança.

Antes mesmo que a vida elabore outro plano mirabolante

para o sem nada que existe aqui,

e diga, com todas as letras,

que novos tempos virão,

entregue a mim o teu calor

por um breve minuto de morte

para então instalarmos novos regimes

de desobediência.

Antes que o medo acabe

e o resto invada nossas casas,

derrama óleo no oceano,

destrói cada floresta

com as cartas que nos dá o amor romântico

de todo dia.

Anda na linha bamba

que sustenta o teu sol

e ri disso à vontade

porque é só graça mesmo

que poderás sentir.

Antes que voltem a usar rimas que combinem com os sapatos,

que te coloquem branca como cadáver num altar,

que te adorem como a virgem insuportável,

Dá tu um passo em falso,

samboleia uma valsa qualquer

para nosso justo delírio,

porque quero mais que tudo delirar...

Antes mesmo que apaguem por aí o direito

inalienável de enlouquecer,

desenhar nas flores a lua que atravessa;

Vai buscar os regimentos

e todas as virtudes,

vamos deixá-los

reger a banda que desafina.


E ficaremos sentados na calçada

gargarejando à toa o vinho sublime

em nós fermentado a cada dia,

como nômades famintos a ver na cara o que exterminará o mundo

ao ritmo descontrolado de nossas passadas.

4 comentários:

Anônimo disse...

É isso aí Leo, um brinde ao vinho que fermentamos dentro da gente, a cada dia. Um brinde à poesia (à poesia possível). Eiliko

Fabi disse...

léo romântico, fazia tempo que esse não aparecia, hehe
bela poesia menezes.
bjos

Anônimo disse...

"*anda mesmo, ritmo ...de nossas passadas...lindo Leo! Um acelerar de dias, um sossegar do vislumbre...Boêmio!!! Viva o Poeta!

B.

Ciro disse...

Poema pré-apocalíptico... nostálgico por antecipação. Me emocionei de verdade.