26/04/2009

Bras-ços-ilha

tuas pernas foram desbravadas
feito uma prostituta lambida
teus braços disseram adeus
aos cafetões cravados entre o pó e a tristeza

tua boca ressequida já não estava só
entre catedrais e concreto demais
tua fortuna era o desvão
nada de terra prometida...

tua voz agora é rouca
vaga entre cactos e farpas
tu és uma puta insana
idolatrada ao avesso

tambores tocam abrindo a relva de teus pêlos profanos
e te vemos com o olhar dos inocentes
no horizonte de névoa roxeada
coaxando pelas madrugadas de teu corpo em frêmito
jogado às cinzas dos siderais
às estrelas sazonais
ao zelo de teu sexo sem pátria

vagabundeando em tua solidão matinal,
ela sobrevoava sem asas
ela cantarolava aos anjos fincados em pedestais
e sob a terra vermelha de sangue
com tatuagens engravatadas na paisagem azul,
ela era um cadáver trepando no silêncio do tempo.

(meu poema para “Brasília” – kybelle de Oliveira)

2 comentários:

Anônimo disse...

as pernas desbravadas, formadas depois de tudo, são antes a natureza, que se abre como prostituta, que por sua vez se abrem por dinheiro. A terra prometida que não existe senão no desvão traz o valor da terra idolatrada ao avesso. Mas o ritual está presente, uma ritual profano, de êxtase, com que as energias obscuras da cidade surgem na encarnação do ato sob sua luz. Apesar da morte e do perder-se eternamente, há a brincadeira, a peça aprontada mo tempo. Visão muito forte dessa cidade "que cala tão distante do silêncio..."

Menezes

Nexo Grupal disse...

legal o comentário, léo! bjos, kybelle.