18/09/2008

Ressurreição

Este poema vai como uma resposta literária ao poema "Ser", do Vítor. É uma poema antigo. Ainda não produzi nenhuma novidade. He.

Ressurreição

Pisa nos degraus de ar.
Eflui do espaço de gesso entre o crânio e a medula.
Deixa transparecer.
Transpira a maleita da existência.
Da febre, faz dela um motim pela luz radiante da doença.
Retira forças dos dentes, do espaço entre o olho e as pálpebras.
Põe pra fora a bile, as células recônditas.
Torna visível o invisível.
Desaparece, não exista, morre e volta.
Principalmente, volta.
Extrai a vida do branco,
assim como o vazio foi palco primevo pra existir.
Combina com a morte, apaga-te por um segundo
e aparece.

Ciro I. Marcondes

3 comentários:

Adeilton Lima disse...

Eita povo bom!

Anônimo disse...

O poema me parece ser um conselho ou um pedido. Seja o que for, pensei no tema dele como uma vontade de se desintegrar no espaço, um desejo, nem que seja breve, de uma não-existência. Escrevi um texto em prosa a respeito de quando a solução imediata não se encontra nem na vida nem na morte, e sim num estado de não-ser. Esse mesmo vazio branco a que o Ciro se refere.
Gostei bastante do poema e acho que ele deixa clara esta percepção de que às vezes a renovação maior e mais benéfica consiste em um apagamento completo anterior à ela. Aquela coisa de que uma luz é muito mais forte e muito mais útil se a escuridão em volta é absoluta. Esse ressurgir do "nada" da existência é um renascimento no mais amplo e profundo sentido da palavra. Um retorno de fênix, não um simples retorno de quem volta do sono.

Vitor Aratanha disse...

Nossa, muito bom Ciro! gosto muito dos seus poemas mais antigos... confesso que não vi muita relação com o meu poema...nele, tentei falar um pouquinho das contradições de ser, simplesmente ser... o tema do seu me pareceu ser outra coisa, outro enfoque, até bem mais interessante que o meu. Gostei de lê-lo pois me remeteu a esse momento de mudança que estou passando, na iminência de ir embora e talz... e penso muito em recomeços, partir para uma outra coisa, diferente. E o seu poema pegou isso muito bem... mas me fala da relação que vc fez, alguma deve haver e eu não tô captando... abraço! Vitor