Ó alma desfigurada,
Sabes que de ti nunca esperarei
Um afeto ou um gesto de amizade.
Há piedade?
Somente buscas o alimento dos fracos
E o retiras com suas manhas.
Porque tirastes a sede e o espírito
Porque nos deixaste a carne e a fome?
Resta ainda saber se te despedaçar
Basta para mitigar o sofrimento.
O Narciso nasce, mas nunca morre.
Está sempre por perto,
Pronto para, em um golpe,
Te desfigurar novamente.
Ó desastre de areia,
Porque de nós o pior tirastes?
Presas enjauladas,
Somos insetos em lamparina.
Não sentimos nada,
Apenas somos.
Ó alma desfigurada,
Porque governas o mundo?
3 comentários:
Esse diálogo entre o homem e sua própria imagem, ou melhor, entre a consciência e reflexo, é muito interessante, pois muitas das relações problemáticas que temos com o outro também temos entre estas duas instâncias do eu. O narciso que espreita nasce mas não morre, enquanto viver o homem. No que diz respeito ao poema, sinto uma exaltação no diálogo, por conta dos "ós" e do teor dramático. É uma forma de poesia declamativa que configura em sua estrutura as força do tema. Mas ainda falta dar uma lapidada. Como tudo que brilha, pode ter um brilho diferente. E o inútil é inútil mesmo (tira ele!).
Léo Menezes
Eu também senti dificuldade com os ós, mas gosto do tema, acho ótimo a idéia da consciência como um espelho.
Fabi
Olha, eu li a tua poesia em voz alta agorinha e achei ótima,hehehe, ela é uma poesia pra ser declamada né?
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