07/05/2008

Espelho

Ó alma desfigurada,

Sabes que de ti nunca esperarei

Um afeto ou um gesto de amizade.

Há piedade?

Somente buscas o alimento dos fracos

E o retiras com suas manhas.

Porque tirastes a sede e o espírito

Porque nos deixaste a carne e a fome?

Resta ainda saber se te despedaçar

Basta para mitigar o sofrimento.

O Narciso nasce, mas nunca morre.

Está sempre por perto,

Pronto para, em um golpe,

Te desfigurar novamente.

Ó desastre de areia,

Porque de nós o pior tirastes?

Presas enjauladas,

Somos insetos em lamparina.

Não sentimos nada,

Apenas somos.


Ó alma desfigurada,

Porque governas o mundo?

3 comentários:

Anônimo disse...

Esse diálogo entre o homem e sua própria imagem, ou melhor, entre a consciência e reflexo, é muito interessante, pois muitas das relações problemáticas que temos com o outro também temos entre estas duas instâncias do eu. O narciso que espreita nasce mas não morre, enquanto viver o homem. No que diz respeito ao poema, sinto uma exaltação no diálogo, por conta dos "ós" e do teor dramático. É uma forma de poesia declamativa que configura em sua estrutura as força do tema. Mas ainda falta dar uma lapidada. Como tudo que brilha, pode ter um brilho diferente. E o inútil é inútil mesmo (tira ele!).

Léo Menezes

Anônimo disse...

Eu também senti dificuldade com os ós, mas gosto do tema, acho ótimo a idéia da consciência como um espelho.
Fabi

Fabi disse...

Olha, eu li a tua poesia em voz alta agorinha e achei ótima,hehehe, ela é uma poesia pra ser declamada né?