Palavras escritas com névoa e água,
Se desmancham agora.
Amores possivelmente apagados
Pelas costas da minha mão
Eu sempre agi como se não soubesse
Que nem a coragem é sólida,
Nem a promessa feita,
Escrita em língua morta
E debaixo de árvore centenária enterrada
É derradeira.
Eu sempre agi como se não soubesse
que este “ser” arruína as paredes de cada “estar” meu
O dia inteiro, como se as horas fossem desdobráveis
Como as cartas e os estiletes
nas minhas mãos.
Como se abrissem e fechassem
Que nem caixas de lembrança,
Ou estojos de maquiagem,
Como se recebessem movimento do vento,
tal os móbiles,
Permitindo mera passagem de luz difusa,
À tua porta,
Meus olhos olhando o meio-dia
Guarda-chuvas e roupas que secam em quintais
Abertos para o nada silencioso das duas horas
e tantos objetos que transitam
Entre as esferas voláteis de uma tarde morna
Eu sempre agi como se não soubesse
Que a minha casa é um aquário
No parapeito de uma janela
De um décimo-oitavo andar.
Lá embaixo a vida,
À minha espera:
Eu sonho uma queda.
Líquida
Transparente.
Vidro sobre concreto.
Estilhaço ao sol.
Um peixe privado do mar.
Até que me esmague a roda de um carro,
A distraída vontade de Deus,
Ou de um distraído passante,
um sapato.
Léo Tavares
Um comentário:
Lindo Léo!
Adorei o trecho final principalmente.
Essa poesia fugiu um pouco do teu estilo né?
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