O que frutifica,
Depois que a noite aberta
Em despedida,
Faz do sangue esvaído
plasma que me cega os olhos?
Eu tento em vão
Arrancar da fronte
Um coração pregado
Sem qualquer sombra
De misericórdia.
O que me resta a ser profanado,
Quando envolvi sem rastro de culpa,
Falta de amor e sexo,
No mesmo sudário?
O que encontro de entendimento,
Se cheguei ao ponto
De dosar em demasia,
Desolação e euforia,
Agonia e êxtase entre um braço meu
E o teu rosto que dorme e sonha,
Enquanto o meu pesadelo
É de olhos abertos:
Este é teu último sono que vejo.
O que frutifica, a partir de agora,
Infeliz impiedoso agora
Que me atira
Para o amanhã depois do penhasco
Onde plantei nossa mistura homogênea
Que não é semente nem flor
nem filho porque jamais nascido
nem envelhecido porque não é amor
e nunca fruto.
Minha garganta engole um grito:
Celebração que já é luto.
Léo Tavares
3 comentários:
Essa eu adorei desde o título.
Adoro aquilo do coração pregado na fronte. Muito triste, mas muito bonita.
Lindo, amei.
Vanessa
A fecundidade da morte assola este poema. O agora que nos leva para depois do abismo é o mesmo que nos leva ao prazer mais intenso, mesmo que a dor ladeie continuamente cada passo dessa existência. O poema é desolador, perigoso em dias de chuva.
Muito bom, Léo.
Menezes
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