O impossível do agora
Estreitando dedos que nos envolvem a garganta.
Dedos terrenos, de sangue e osso.
O depois aberto como uma boca
De vulcão.
Saliva divina lambendo as feridas
Do Cão.
Me espera lá embaixo, ou acima?
Fica a ti a escolha.
Sigo embevecido em transe
Desfigurado flamejante pronto
A dançar com qualquer anjo.
Ou qualquer bacante.
Não sei o nome de ninguém
Recuso qualquer designação.
Melhor seria se unissem
Tridente e auréola,
Amém e maldição.
As babas do Diabo,
E os fios da Virgem.
Nós cantaríamos elegias,
E dançaríamos tango
eternamente caindo
em fremência e erupção.
Léo Tavares
7 comentários:
Perderíamos menos tempo, com certeza. A união entre o bem e o mal, eternamente impedida, muitas vezes justificada pela salvação eterna das almas. Costumo dizer que tenho em mim o bem e o mal, ou melhor, que deus é também o diabo, ou o abriga, como um conjunto maior que contém um conjunto menor, subconjunto. Sei que isso é contraditório com o que disse acima, pois estou dando maior valor a deus, mas é isso mesmo, das duas armadas que lutam em meu espírito (parafraseando o nikos kazankzakis), certamente o que se convencionou chamar de lado claro, de "divino" é que me atrai, o que acho mais forte. Pra além das religiões. Seu poema é interessante, vc começa estruturando o ambiente em que se dá o encontro com o bestial, mas seu espírito vagueia "embevecido em transe desfigurado flamejante pronto". Espírito aberto, que tende para a luz dos salões de tango, entretanto. O poema é leve, contrastando com o peso do tema. Mas não rebaixa em momento algum o seu tom. Acho que se vc trabalhasse mais o texto, talvez resultasse uma obra de mais peso; de qualquer forma, este é o caminho.
Menezes
Gostei muito do seu poema, Tavares.
eiliko
Adoro!
As babas do diabo,
os fios da virgem.
Tudo.
Adorei esse poema! sensível, lá de dentro, e forte, muito forte! imaginei ele vermelho...
abração!
ps: pq o primeiro comentário foi excluído? e por quem? do que se tratava? fiquei curioso...
Meio dionisíaco, meio entorpecido, pagão. Gostei. O que é profano interessa. Mas concordo com o Menezes: vale uma pequena retrabalhada, um pente fino nesses versos para o poema ficar mais cristalino...
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