19/03/2008

O coração numa ervilha

rompantes impulsivos se arvoram no querer,
querer do bem enquanto favo,
cadeias dos sentires apertam o cuidado,
ego inverso e translocado.

buscas por âncoras perdidas no mar revolto,
correntezas imprevisíveis assumem espaço
e atingem sem dó um ponto nevrálgico,
quando me cego e despedaço

os dias ensolaram a sombra que permeia,
sufocam a paisagem com lágrimas;
meandros de vultos em teia
desconstroem o início das páginas.

em sondagem do sentimento,
um fluxo constante
fomenta um caminhar pra frente
que recomeça a cada instante.

Vitor Aratanha

4 comentários:

Bic disse...

O coração numa ervilha? Interessante... Refluxo ou fluxo das emoções humanas, um dia de cada vez. E a poesia continua na vida da gente. Valeu Vitor!!!

Léo Menezes disse...

E essa ervilha, quando estatelada no chão (terra), cresce, no sentido do fluxo constante que recomeça a cada instante?
Brota e se mostra em parte (verdadeira)?
E se brota e cresce, não chega o dia de sua ida derradeira?

Léo Menezes

Anônimo disse...

Além da sonoridade do poema ter ficado excelente, fluída, são versos que crescem e evoluem à medida que se avança para o fim -e a surpresa do recomeço no último verso faz a leitura se tornar ainda mais proveitosa. Tema e estrutura casam-se perfeitamente e é isso que eu chamo de poema irretocável, Vitor.
=)

Ciro disse...

Vitor, gostei do poema, mas faço algumas ressalvas:

1 - quando se quer versificar rimando, é preciso não deixar a rima consumir o conteúdo do poema.

2 - não acho que "desconstrói" seja uma boa palavra para se usar num poema. Refere-se a um didatismo quase para iniciados intelectuais... enfim... acho-a meio feia. Por isso estou tentando limar todas as vezes em que usei esta palavra num poema também.

No mais, é um poema adorável, bem trabalhado, mas pouco surpreendente. Acho que o seu sentimento "coração na ervilha" acabou sendo expressado de maneira pouco substanciosa pela necessidade de encontrar palavras para estruturar a forma do poema. Mas foi um ótimo exercício, e acho que precisamos de iniciativas poéticas como a sua por aqui também!

Ciro