17/12/2007

Bem, estou postando os poemas-irmãos, "Achar" e "Torcer", respectivamente, no Metafísica do Bob Esponja e aqui. Relendo o famigerado poema sobre futebol, percebi que ainda falta muito para "fechá-lo" do acordo com o que minhas idéias tentavam formar. Sofrerá modificações, mas, por enquanto, vá lá! Comentem, sim? :P

Torcer


Assim sentado na poltrona,
não parece que estou torcendo meu coração.
Torço para que este efeito seja apenas o desaguar circunstancial do [ato de torcer.
Já que, quando torço, espremo, e quando espremo, escorre um líquido
[sagrado, néctar da vida aplicada, de emoções que passam a se [manifestar em jogo.
Porque o jogo se abre (e espanta) em vida simulada, em duelo de
[brinquedo, num faz-de-conta de vida e morte.
Orgasmo calculado, o gol não é senão um estrondo que relampeja, um
[copo que transborda, um amor fugaz.
Diante deste sistema que reinicia e mata a vida, o torcedor é um
[operário que trabalha pela auto-regulação do maquinário.
A sombra das coisas duais do mundo, projetada sobre o campo,
[bombeia sangue para os olhos.
A experiência se duplica: há os que preferem virtualizar os [sentimentos.
O futebol significa.
Rasga os gomos sentimentais desta laranja torcida.
Torcida e ferida por tempo limitado, genocídio que evanesce; enfim, [torcida.
Autômato do pulsar íntimo das coisas: de amores (felizes ou infelizes),
[de guerras, de equações, do sexo.
Olho o jogo como a um espelho: que faz emergir a matemática da
[caça ao mundo, da paz e da fricção.
Torcer a bandeira, e torcer pela bandeira, faz parte de um extrativismo [humano.
Torço, porque algo precisa sair de mim: um líquido, uma essência, um [grito (gol).

2 comentários:

Fabi disse...

Eu gostei muito dessa poesia sua, de todos os sentidos que vc colocou no verbo torcer, tu trabalha a palavra como um artesão mesmo, consegue tirar o máximo da poesia, nunca parece que faltou ou sobrou algo no que tu escreve.
Ah, e eu adorei os livros, muito mesmo!

Léo Menezes disse...

O que sai do homem, o suco retirado do sulco,
sua essência, vem do homem, demasiado humano,
ou daquilo que não está ao alcance, o território que as religiões parecem abrir como "embaixada" de alguma divindade aqui dentro?
O que nos faz torcer
é uma necessidade de mostrar alguma forma de fé?
Mas se é fé, ainda é "orgasmo calculado"?