25/10/2007

Para os futriquentos

Este poema foi dedicado à Carol, futuquenta-mor, mas serve também para todos aqueles que têm formiguinhas passeando pela cabeça.

Futucante


Futuca essa coisa tentaculosa que deixa uma coceira que não se
[pode encontrar, debaixo da pele.
Carcome essas casquinhas, estes pequenos adereços faustosos que
[a alma e o corpo gostam de penduricar.
Investe e alimenta esses comichões que sempre se parecem com
[aquela dorzinha que nunca tem lugar, nunca tem solução, nunca tem
[nome.
Para se futucar, tem-se que conhecer o fundamento da própria dor, e
[respeitar as gangrenas e hemorragias que jorram nossos
[questionamentos para espelhos passados.
A carne ferida (e a carne dos outros, também ferida) abre aquele olho
[mágico onde tudo cintila.
Movimento em riste, sacralidade dos ciclos da vida. O futucar é quase
[um rio que se desdobra, tem a consciência das coisas mecânicas,
[mas religiosas.
Se há algo que quase se depreende, é o carinho com que se mutila,
[se deteriora, se expurga.
Descasca-se pelo amor que se tem pelo que é finito, pelo que nunca
[se renova.
Deixa mesmo uma impressão indelével que marca, que provoca relevo.
Futuca-se com delicadeza e precisão, amor lacrimoso, que insere na
[carne o pontiagudo instrumento de uma subjetividade titubeante.
Queria alcançar o infinito, pelo futucar.

Ciro I. Marcondes


3 comentários:

Anônimo disse...

do caralho esse poema!

Nexo Grupal disse...

Futucar, sei que vem de algo que vc observa, considera mecânico, tenta inserir a explicação do que não se explica. Mas a ação de explicar abre para outras portas, que dão sempre para dentro. A própria ferramenta do ato mecânico é subjetiva, assim como são subjetivos os desejos que agem sobre a matéria que dividimos... A vida parece ser um eterno entrecruzar entre o que temos e o que somos, entre o que somos e o que achamos que somos e entre o que somos e o que queremos que o outro seja. êta joguinho...

Nexo Grupal disse...

Nexo grupal sou eu, léo. Pelo menos agora...