21/06/2010

Atrasada para o chá

Andava sobre a cidade tentando se equilibrar em pedaços de tábua que desabavam pro infinito. Onde não havia tábuas, tinha que se segurar, de um lado, em pedaços de arame farpado e, de outro, numa cabeça de homem que pendia de algum teto invisível.
Tinha a impressão de que a cabeça estava viva. Era capaz de ouvir as batidas do coração da esfera sem corpo. Vez por outra, ela ainda parecia lhe sorrir zombeteira, para seu horror.
Sabia que precisava encontrar uma saída e se deparou com uma porta de vidro muito antiga e muito alta. Desceu feito mulher-aranha e eis que se viu com as-pessoas-da-sala-de-jantar.
Tentou explicar tudo (?), mas o fôlego lhe faltava. Continuaram comendo e falando baixo, até que alguém a encaminhou ao lavabo: estava coberta de sangue.

Um comentário:

Dorothea disse...

completamente a parte do conteúdo dos demais posts por um bem sucedido encontro de maturidade, talento e densidade.
vislumbra uma colagem de Max Ernst, causando um novo e refrescante efeito sinestésico do produto das palavras ao invés da mera soma. só abria mão dos termos compostos p excelência. Prosa deleitante.