30/09/2009

LUSCO-FUSCO

LUSCO-FUSCO

Um repente; um naïve

Capturar uma estrela
Com uma rede de caçar borboletas
Não é tarefa simples
Como capturar um vagalume
Com estes devaneios estetas

Capturar uma estrelinha
Com a palma da mão e fazê-la só minha
Às vezes parece sonho, às vezes parece delírio
Muitas vezes, é pesadelo medonho.
Outras vezes, é como parir um filho.

Eu me sento na relva, cansado, e olho para o céu.
Há nuvens de astros piscando,
Mas todas se me acobertam em véu.

Porém, existe uma única estrela
Cujo brilho me solfeja,
Mas ela está tão distante
Em sua aridez sertaneja.

Esta estrela, eu não quero ser dono dela.
Esta estrela, como um asteróide, fez em mim um rombo, uma cratera.
Como um personagem literário complexo,
Esta estrela não bem se revela.
Como um arroubo de Clarice Lispector,
Esta estrela não é apenas estrela, é esfera.

Como bem observo sentado na relva,
A estrelinha brilha e apaga.
Em um segundo se me ilumina,
E no outro segundo, já não me afaga.

Mas não tem jeito.
Esta luz intermitente é a única que vejo.
É a que guia meus reis magos,
É a lanterna que desejo.

Não importa se a estrela está longe,
Se são anos-luz de distância, se perdi o bonde.
Posso pesquisar mil anos trancado a chave,
E do meu esforço, comigo em conclave,
Construo uma espaçonave.

Esta estrela, repito, eu não quero ser dono dela.
Eu quero apenas orbitá-la, no calor de sua janela.
Sobre a busca por esta fulgurante luzinha,
Não há final que prevejo.
A única coisa que sei
É que largaria tudo que tenho e ensejo
Para circundá-la como um planeta,
Receber seu calor e sentir o esplendor
Sem precisar de luneta.
Colidir com ela, como num salto de arrojo, como num cósmico beijo.



Ciro

5 comentários:

Anônimo disse...

Ciro, que bicho te mordeu? heheh Gostei dos arroubos líricos. Fez falta no encontro, vamos fazer alguma coisa... Abs Eiliko

Fabi disse...

Lindo, lindo, lindo.
Adorei o romantismo!

Léo Tavares disse...

é... eu diria de um romantismo saudoso, quase inocente, bom de ler, bem desenvolvido. estranhei as rimas num poema do ciro. a forma e o conteúdo são novidade pra todos que conhecem o trabalho dele, eu acho...
mas valeu a incursão. gostaria de ler mais desdobramentos desse gênero.
:)

Raíssa Abreu disse...

A mais bela, mais precisa e mais intensa definição do amor platônico que já li.

Ciro disse...

Puxa... *envergonhado*