Vai, meu amor

Vai, meu amor.
Sei que queres partir
– e não é meu coração.

Guardo em mim a paz possível
de quem aceita a iminência;
de quem ama
e cede;
de quem teme inda viver
só do que precede a verdade
de que sei que queres partir
– e não é meu coração.


Hoje
quem parte e quem fica
fica por partir, parte por ficar,
sofre por tudo isto que é
súbito exílio e permanência,
intermitência, perenidade
e tempo.

Quando boa semente
não dá fruto, quando o certo
não se torna, quando regar
não basta

Não basta devotar,
cuidar, permanecer

Quando bate à tardinha
um vento e carrega o amor
sem nenhuma explicação

Quando a vida é assim vida,
cruamente vida,
vida simplesmente.