Nada mais vejo: nem pássaros, nem árvores,
nem gentes.
Esforço a vista para vencer a bruma
que nos rodeia.
(essa névoa não é má, é como terra
nos olhos das crianças)
E no entanto perdura!
Vem muito mais e se forma como deficiência;
pouco mais que um movimento involuntário.
No meio de tanta cegueira,
passo a tatear as coisas, evitando a queda;
E, a despeito da piedade que nos cerca
quando vemos a superação humana,
o que cresce nesse contato obsceno entre mãos e superfícies
é o medo terrível de não ver mais o mundo
pela distância necessária ao olhar.
De achar o que finalmente apague tudo no que acredito.
Esse medo vem do salto que implora à minha frente o desvario.
mas o que fazemos na vida senão desmedir?
Porque é de réguas a nossa mais
tenra agonia.
O homem existe como aposta dos deuses.
Nada de biologia.
Mais devaneio que razão,
mais metafísica que sentido.
A sensualidade do que nos escapa
converte-se em fetiche,
talvez seja por isso que tenhamos
essa cegueira consentida;
para ver os absurdos do dia
como contingências do real,
ou para tocar em corpos mal nascidos,
deformados, votando-lhes pureza e equilíbrio, certeza e paixões.
O que nos espanta, nesse torpor,
é vermos, cristalinos,
os nós e os engasgos do que é Belo.
A mesma névoa que persiste e não nos cega;
abre os nossos olhos!
Menezes
5 comentários:
Leo, entendo que esse é um poema de expurgo, possivelmente escrito e publicado de madrugada, que reflete os conflitos e inconsistências de seu labor alucinado do presente. Pressinto que ele te serviu mais como um tipo de desabafo lírico, alternado em fascínio e dor. Não achei dos mais significativos de sua obra, mas emociona o ate de escrever no meio de um trabalho em que sequer se tem tempo pra pensar em escrever poesia.
Mas não entendi "Porque é de réguas a nossa mais
tenra agonia." Se for o que estou, pensando, acho que ficou um pouco deselegante.
Ciro
puxa, eu gostei do poema, bastante até. mas apenas sinto falta de uma estrutura digamos "mais velada", já que o poema fala sobre esta espécie de névoa interiorizada que se apresenta sobre as coisas, e se ele fosse mais metafórico e menos direto seria um contraponto interessante. algo como falar menos explicitamente da cegueira para que o leitor possa vislumbrar ela não como algo físico, mas interiorizado. algo mais conotativo, eu acho sempre mais interessante.
ei... só uma coisa que não tem a ver com o poema do menezes, mas eu queria perguntar: como faço pra colocar o link do meu blog ali do lado, no Blogues Vizinhos, hein?
eu não tenho essa opção aqui no meu painel. acho que isso é layout do blog, certo?
se o administrador puder fazer isso pra mim, o endereço é:
http://petiteslettres.blogspot.com
ando mais satisfeito com minhas incursões na prosa, eu acho. e os comentários de vocês serão sempre bem vindos e muito úteis.
obrigado, galere
Parabéns, de verdade. :)
Sou de desmedidas...
Abraço!
Adeilton
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