11/06/2009

LABIRINTITE

Agora, eu descobri:
o sentido é o impossível
quando se está cansado de caminhar em círculos
pelas metamorfoses do possível.

Gosto dela, mas evito a imagem do labirinto,
já que se imiscui na imagem do espelho
que, por sua vez, é a imagem da própria imagem.

Olho no espelho, e a imagem que se me reflete
é o próprio labirinto,
já que o mundo do desejo é um labirinto de carne,
e o mundo do espaço é um labirinto de ventos,
enquanto o mundo do tempo é um labirinto do intenso.

Como eu refletia, o espelho me reflete enquanto labirinto,
sendo o mundo da alma um labirinto de labirintos.

Perdoem o excesso de tautologia.
É que a instância do possível não é mais que percorrer estes [labirintos.
E um labirinto não se percorre.
Um labirinto se atravessa.
Prenuncio dois métodos para atravessar a escala de labirintos:

1 - Pelo voo, que me derrete as asas.
2 - Pela força, que racha paredes, mas me exaure o corpo.

Esta técnica aflitiva de enumerar caminhos, planos de travessia, [pressupõe escolhas.
Escolhas que querem se distanciar do espectro do possível.
Mas se o possível só se dá no espectro da escolha,
que escolhas são essas, que visam o impossível?
Ora, a escolha pelo impossível
é não escolher coisa alguma.
Renegando as ideias de percorrer, voar ou destruir,
há ainda uma última metáfora,
que é a minha escolha para o dia de hoje.

Para sair do labirinto e não ter mais de escolher
eu vou cavar, maturando meu esforço até me encobrir
e não restar trilha para seguir.

Ciro I. Marcondes

5 comentários:

Anderson disse...

Tem um poema de um amigo que diz:

"Debaixo da terra tudo é céu
Em cima da terra tudo é céu
Não há para onde fugir
Somente céu"

Como na Valsa Azul do Wisnik, diante de certas visões resta-nos querer apenas a vertigem e o vão, a imagem do espelho que nos deixa tontos de encanto por coisas que deslumbramos e nunca vimos, coisas que estão ali, mas nunca achamos. Não dá para apagar os caminhos com as unhas. Às vezes a única coisa a fazer é tocar um tango argentino e encher a cara. Nada melhor do que uma ressaca homérica para por as idéias no lugar. Citando meu amigo Rus:
Poesia nuncasia.

Anônimo disse...

Um poema labiríntico e agustiante para o qual a única saída final é um desejo de desaparecer ou de se auto-anular: não sei o que vai achar disso, mas nesse sentido me lembrou aquele meu poema sobre a língua no corpo morto que não tem para onde escapar e acaba engolindo a si mesma. Abs Ciro, Eiliko

Anônimo disse...

Acho que tem uma relação com o poema do eiliko, enfim com a aporia mas também acho que há uma "iluminação" deste eu lírico, que, racionalmente, percebe todo o processo pelo qual se chega às escolhas do impossível. Ele se queima e consome, e depois se enterra no seu autofuneral do desejo, mas tudo de forma consciente, no meu entender.NO trecho "Escolhas que querem se distanciar do espectro do possível.
Mas se o possível só se dá no espectro da escolha,
que escolhas são essas, que visam o impossível?" há uma apreensão do problema. Mas, agora entrando no campo das opiniões, acredito que mesmo as escolhas que visam o impossível não almejam "coisa alguma",mas o que pode vir a ser, ou seja,ao escolher o impossível,é capaz que criemos um novo mundo ou nova forma de enxergar (ou dominar) este mundo. Exatamente assim: pela utopia, Então, acho que o poeta aqui deve gastar sua energia saindo do buraco ao invés de cavá-lo. Até mesmo porqueo não-caminho é uma escolha e,assim, um outro caminho.

abs
Menezes

Anônimo disse...

Completando o que disse: se estamos chafurdando na lama (ou na merda), qualquer galho podre serve de abrigo. Então por que não mirar o céu? Nada a perder, brother.

Ciro disse...

Eiliko, acho que realmente meu poema problematiza o discurso, a linguagem, assim como o seu. Mas o seu foi no âmago. Acho que vou aparar umas coisas nesse.

Leo, as medidas desesperadas são sempre permitidas na poesia :) Na vida é que a gente tem de segurar a onda.

abs e valeu pelos comentários, amigos.