24/03/2009

MORADA
em sua morada brotavam vaga-lumes
cisnes de asas quebradas
trotava o silêncio com sua longa cabeleira
escamas vermelhas arranhavam o sonho
(...)
em sua morada o sol escapava
as árvores fundiam o ouro e o vento
nas vértebras das dês-palavras

em sua morada as histórias apagavam o tempo
as larvas alongavam-se em solidão
antecediam o grito num breve sorriso
...
os sentimentos eram perfumes de vespas
em rodopio com estrelas e terra azul
uma criança em desamparo sobre a névoa das flores
e das cinzas esculpidas nos trovões (...)

em sua morada as folhas eram as faces do escuro
do precipício ronronando dentro de seu coração
era a metamorfose das serpentes sangrando sob os olhos da neve...

em sua morada nascia o absurdo
cores borradas circundavam seus lábios
borboletas caminhavam nas pétalas da chuva
enquanto ela velejava em seu barquinho de papel.

(Kybelle de Oliveira)


6 comentários:

Anônimo disse...

Kybelle, bem vinda! Mesmo que não esteja necessariamente falando de si mesma no poema, tua morada - no sentido metafórico - está sem dúvida cheia de poesia! Abraços, Eiliko

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Nexo Grupal disse...

obrigada, eiliko! acho q falo de uma, de minhas muitas moradas... :)
bjos, kybelle.

Bic disse...

Emociona....uma dor que a poesia fala, com tanta beleza, um devaneio concreto e lúcido, cheio de natureza...cheio de sentimento...Belo!

Bic

Anônimo disse...

Gostei do tom de criar um mundo interior, onde as ações estão como que a dar qualidade aos sentimentos de uma, digamos, personagem?
Morada em que as coisas mais absurdas são comuns, sei lá, onde se pode acreditar num amor mas também entender o sentido nem sempre amigável das verdades... o verso "os sentimentos eram perfumes de vespas" é uma imagem de tudo que sofremos justamente por acreditar no que é belo, como deixa entender o restante da estrofe. A "criança em desamparo", "as cinzas esculpidas nos trovões". Mas esse poema aponta justamente para uma utopia, a possibilidade do absurdo expresso na última estrofe, onde "borboletas caminhavam nas pétalas da chuva
enquanto ela velejava em seu barquinho de papel." Essa utopia representa a posição idealista do poema, que brota do mais cerrado e nebuloso "universo" criado para ser. Mundo que é tão asustador quanto aprezível.

Essa são impressões de quem leu teu poema de madrugada depois de umas cervejas. bjo

Léo menezes

Nexo Grupal disse...

Bic e Léo! Belos comentários... é sempre bom escutar as particularidades do que cada um sentiu em relação aos escritos. E Léo, acho que esse ponto "mundo tão assustador quanto aprezível", é um dos pontos relevantes que também leio no poema! legal... ah, comente sempre depois de tomar umas, hehe :)
bjs, kybelle.