25/07/2008

objetado

Docemente submeto minha alma
ao momento fictício em que ilumino
minha vida – verdadeira.
É um êxtase medido como é exato o estupor
de minhas peles quando recebo o sol
- de braços abertos e coração cerrado.

Parece que as coisas se movem,
aceitando seu estranho papel.

Sob minha tutela,
Eu a vejo resumidas,
sensuais,
aberta a meu jugo e interesse
e agora eu as submeto,
tal semente que goza no deserto.

[Toda terra tem renovada honradez
no sulco virgem que atribuirá valor ao novo.]

Lírico demais, tento encontrar equilíbrio
no gesto sutil de bom semeador,
alicerçando eras na divindade de conceder graças...

Mas com um sentido bem plantado no que sinto.

Insistente, traduzo esse ato num idioma inventado
mas
é mentira que o verbo tudo comunica;
há coisas, muitas delas,
que impõem pela força
- minha fraqueza -
sua anônima atividade.
Eu as espreito,
Possuído,
E mais uma vez me submeto...

Menezes

3 comentários:

Fabi disse...

Eu gostei bastante da sua poesia sobre o ato de escrever.
E esse final, é mais ou menos isso que eu sinto quando escrevo.
Ótima.

Anônimo disse...

Bem, Leo, esse é um poema que reli várias vezes e posso dizer que estou verdadeiramente familiarizado com ele. Achei muito boa essa versão final. Acho que você deu-lhe o acabamento necessário para que estsas sensações de espanto e transcendência diante do objeto poético realmente fossem quase diretamente transmitidas.

Reclamei um pouco do excesso de poemas sobre o próprio ato de escrever, mas este é um tema clássico, verdadeiro e importante para cada poeta.

Vejo nesse poema um intenso elaborar íntimo, revelando a enorme dificuldade que temos em tentar domar esse caos psicodélico que se nos oferece, de maneira enigmática, para a verbalização poética.

Enfim poderosas distinções eu/outro, sujeito/objeto, que são, na verdade, as únicas realmente importantes, filosoficamente ou poeticamente. Como você viu na minha comunicação, considero que o conhecimento/sentimento poético nasce de fraturas entre estas instâncias, e confrontá-las diretamente é um desafio para todo poeta.

Anônimo disse...

Gostei: "é mentira que o verbo tudo comunica;
há coisas, muitas delas,
que impõem pela força
- minha fraqueza -
sua anônima atividade.
Eu as espreito,
Possuído,
E mais uma vez me submeto..." Entendi esse final como o momento em que as coisas impõem sua objetividade ao poeta, e a atividade de fazer o poema se torna uma forma de conhecimento bastante concreta, em certo sentido. Concordo com o Ciro: sujeito/objeto, eu/outro: o pensamento humano não escapa a essas categorias, e o poema trabalha bem essas oposições. Eiliko