11/06/2008

O pai

Uma árvore velha e cansada,
Que proporciona sombra, abrigo e amargura.
Meu pai.
O homem sentado em frente a casa,
Que guarda na pele gasta,
O meu primeiro abraço,
Suspirou ao ver-me,
(um suspiro de dor)
Dor de quem alquebrado pelo tempo
Espera qualquer coisa.
Vê-lo assim machucou meu sorriso,
Eu fugi como quem foge do algoz.
Não queria encarar a velhice em meu pai,
Encontrar seu cheiro nele,
Reconhecer sua fadiga típica.
Tive medo da morte,
Da grande garra da morte
Que ronda o tempo dos homens,
E já sombreia os olhos do meu pai.

Guardei meu assombro e segui muda
Eu não antevi a velhice em minha casa,
Não a convidei a entrar.
(Não éramos íntimas).
Fui pega desprevenida,
Era a vida do meu pai
Que passava como uma procissão
Para nunca mais diante da minha perplexidade
Eu atrás, corri.
Sorvi tudo o que consegui
Desde o brilho dos olhos
Ao grave da voz,
Fiquei com a essência
E ri sozinha,
Porque a raiz sempre fica,
Plantei-a em mim.

3 comentários:

Anônimo disse...

Como eu disse no último encontro, fabi, esse poema diz coisas que eu também sinto, e a minha identificação com ele é muito forte. Muito bonito, emocionante. eiliko

Anônimo disse...

Gostei muito. É bastante prosaico, quase um desabafo, mas sincero, delicado e tocante.

Minha versão para a paternidade é... diferente...

http://nexogrupal.blogspot.com/2007/09/o-pai-de-todos.html

Anônimo disse...

Nascido no subúrbio nos melhores dias
Com votos da família de vida feliz
Andar e pilotar um pássaro de aço
Sonhava ao fim do dia ao me descer cansaço
Com as fardas mais bonitas desse meu país
O pai de anel no dedo e dedo na viola
Sorria e parecia mesmo ser feliz

Eh, vida boa
Quanto tempo faz
Que felicidade!
E que vontade de tocar viola de verdade
E de fazer canções como as que fez meu pai

Num dia de tristeza me faltou o velho
E falta lhe confesso que inda hoje faz
E eu me abracei na bola e pensei ser um dia
Um craque da pelota ao me tornar rapaz
Um dia chutei mal e machuquei o dedo
E sem ter mais o velho pra tirar o medo
Foi mais uma vontade que ficou pra trás

Eh, vida à toa
Vai no tempo vai
E eu sem ter maldade
Na inocência de criança de tão pouca idade
Troquei de mal com Deus por me levar meu pai

E assim crescendo eu fui me criando sozinho
Aprendendo na rua, na escola e no lar
Um dia me tornei o bambambã da esquina
Em toda brincadeira, em briga, em namorar
Até que um dia eu tive que largar o estudo
E trabalhar na rua sustentando tudo
E assim sem perceber eu era adulto já

Eh, vida voa
Vai no tempo, vai
Ai, mas que saudade
Mas eu sei que lá no céu o velho tem vaidade
E orgulho de seu filho ser igual seu pai
Pois me beijaram a boca e me tornei poeta
Mas tão habituado com o adverso
Eu temo se um dia me machuca o verso
E o meu medo maior é o espelho se quebrar