21/06/2008

Entre o mundo

Tô aqui no trabalho de escolher os poemas para o zine, tarefa aliás que me é árdua, vendo coisas muito legais que tinha guardado e me deparei com um fragmento, o primeiro verso. Resolvi completar e olha que coincidência: o tema em discussão está mesmo sendo o trabalho do escritor. O que digo é uma visão deturpada de um semisonho.


Tudo em busca do verso

que constrói o resto do mundo

dentro de mim...

Língua celeste

de duas bocas,

Lágrima do acaso,

Surge poente no ápice da aurora,

O outro lado,

A ficção aqui de dentro,

é verdadeiro como tudo mais,

muito do ruim

está na qualidade

daquilo que liga,

bijoteria barata

que se arrebenta

num ato de amor,

mais que alma,

o esqueleto reveste

tudo

de pó,

eu olho

cansado

o que está aqui

e o que vem de lá,

sei da vida e daquilo que nunca saberei

procuro mais pela sede depois da caçada,

quando enchemos de glória

algum gesto bestial,

e o sentido,

que sentido fará

se não for para morrer

no inefável

que separa

os mesmos mundos,

como todo mais da história,

uma tapeçaria de fumaça

redigida, esculpida

lapidada?

Achei o verso

Destruindo pequenos motivos

do mundo de fora

daqui.



Léo Menezes


6 comentários:

Fabi disse...

Encontrar o sentido para o mundo de dentro, no mundo de fora (entendi certo?)Lindo isso,adorei a poesia, e acho que a busca é a busca é essa mesma.

Anônimo disse...

Tava viajando no limiar entre o sujeito, o mundo e aquilo que nasce dos dois: a poesia.

Anônimo disse...

"muito do ruim
está na qualidade
daquilo que liga,
bijoteria barata
que se arrebenta
num ato de amor"
Verso poderoso, diz muito.
Um grande abraço, eiliko

Anônimo disse...

iria escrever um comentário analisando o poema, inserindo-o em categorias, situando no tempo-espaço. achei melhor sampleá-lo, pois repito que o melhor que se pode fazer com uma obra de arte é utilizá-la em outra obra.


Malik sampleado

Boca celeste
de infinitas línguas

Lágrimas do acaso

A aurora engedra o poente

Versos que me chapam
toda lenda
é pura verdade;
podes roubar-me o pão,
a fome não;
que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar

Cansaço catalisa
agiganta o pó

Meu verso
arrebenta
tapeçaria de fumaça
bijoteria barata

pequenos motivos

Vitor Aratanha disse...

Gostei muito poema! um dos melhores que já li seu... valeu!

Liah in Casulo disse...

Olá...

...E tudo que se liga, une e ata de alguma forma, sempre faz sentido.

adorei sua visita.

Celebro-te!