07/04/2008

Babel

Aquele rapaz que passa ao lado
Não olha nos olhos e disfarça calado
Sorvido no barulho do trem do asfalto
Cambaleia sua rotina no escuro da cidade
Carrega um milhar de anos em cada ombro
Nem par de décadas completado
Sorvido no barulho do trem do asfalto
O rapaz passa ao lado daquele que passa
Passado vazio de sonho frustrado
Observa nos trilhos um futuro descarrilado
E contempla esta opção ao voltar do trabalho
Cansado, sofrido e ensimesmado
Ele olha e sonha e dorme acordado
Num sôfrego suspiro de alívio e fracasso
Imagina o dia que o pulo anteceda o medo
E sofre em silêncio sem virar para o lado

Bárbara Petrucci

5 comentários:

Fabi disse...

Essa tua poesia casa com a que eu portei anteriormente. Adorei ela desde o encontro. Achei a cena muito bem narrada.

Anônimo disse...

aqui, além de ser uma poesia bem finalizada e com um tema interessante (para mim é a solidão na cidade), eu gosto muito do poema também por identificação. Acho que já senti, em termos de vivenciar mesmo, cada verso do seu poema, Bárbara, e quando esse olhar do outro sobre uma coisa tão nossa nos diz tanto, é sempre uma sensação de encantamento. Adorei.
:-)

Anônimo disse...

Apesar de ter praticamente a mesma opinião sobre seu poema que sobre o poema da fabi, no seu caso específico, como te disse no encontro, é sua visão daquela pessoa que perpassa no poema. Até aí tudo bem, mas não se pode esquecer que VC é uma pessoa localizada social e historicamente. Quando vc determina, pela impressão que tem, o fracasso de outrem, vc está baseada em sua própria visão de mundo e, o que mais, numa visão de mundo baseada no capital. Mais uma vez digo: isso é mais do que esperado, mas se vc toma consciência do outro, o outro talvez expressasse seus conflitos de modo diferente, pois ele tem outra visão de mundo. É a tal da representação hegemônica, em que uma classe representa a outra, como se tivesse recebido uma procuração. Mas não recebemos. Apenas suplantamos o silêncio existente. OLha, eu digo isso porque tenho muitos poemas nessa linha e ultimamente tenho me vigiado bastante quanto a isso. Vou aproveitar e postar um poema com uma problemática parecida, apesar de não ser sobre uma figura urbana. Aí vc perceberá as contradições a que me refiro, no meu próprio texto. bjo.
menezes

Barbarela disse...

Meninos, este poema saiu num grito e talvez por isso tive um pouco de receio de mostrá-lo. Confesso que as respostas ao impacto da leitura me surpreenderam e por isso decidi postá-lo. É, sim, uma visão de mundo parcial e particulr, típica da ápoca em que vivi fora da ilha que é esta capital.
Bárbara

Anônimo disse...

Publiquei um poema pra dialogar. Fiz também um sobre o lixo, depois mostro. Gostei do tema e gostei das situações em que vc coloca esse ser observado. Considerei apenas a parcialidade da visão (se bem que é impossível não ser parcial), a título de observação, que não deixa de ser, por sua vez, também parcial. Achei este poema mais "Poema" e menos "prosa", justamente pelo foco de visão, o ponto de referência, o "eu" do poeta.
Léo Menezes