15/10/2010

The End (Aplausos)

Ia tão alquebrado naquele passo de palhaço
deixando o circo para sempre.
Meio torto, meio encurvado
Exagero cênico indispensável.
Ia machucado de tanto reinventar-te.
A memória rasgada de ilusão doía na alma,
num soar de tambores imaginários para cada mesura
nos atos tristes dessa sónossaminha história.
Ontem, aplausos e luzes.
Hoje somos escória.
Te arrastei comigo, aos solavancos, pelas ruas
como um ventríloquo a carregar seu boneco esfarrado.
Já não tinha mais nenhuma cara pra te dar
nem voz nem dentes nem pés nem chão
Tinha só um arremedo de sorriso
que te meti no rosto com as mãos.
Tinha só uma suspeita de carinho
costurada nos teus olhos de botão
Nem vimos atrás de nós a praça.
E na praça, as gentes às gargalhadas.
Para livrar-me do peso e da vergonha
larguei teu corpo na primeira esquina,
tal carcaça.
Eu ia tão alquebrado naquele passo de palhaço.

3 comentários:

Fabi disse...

Que lindo!!!! Que triste!
Adorei essa cena toda, poesia cinematográfica.
Léo, cada vez mais o teu talento para contista se encontra com o poeta, lindo,lindo.

João Lenjob disse...

Olha, continuo postando cinco poemas diarios em meu blog, http://lenjob.blogspot.com, mas vim apresentar o meu castelo, http://castelodopoeta.blogspot.com, que é interativo, com poemas de outros poetas, videos, curtas, entrevistas, exposições e etc..., sempre de arte, fotografia, moda (e segunda será postada a entrevista com a booker Sandra Sayão da Ford Models de Minas) e esportes alternativos e queria sua visita lá. Aguardo!
Atenciosamente,

João Lenjob

Os Teus Passos
João Lenjob

Se estais tão triste
Comprometo-me com teus passos
Os sigo sem a auto-piedade
E deixo escorrer em mim as tuas lágrimas
E faço-me a tua ternura
Faço-me o teu destino, teu menino, tua vida
E busco a felicidade e que venha dobrada
Que chegue repleta de sonhos
Que enriqueça cada segundo de esperança.

Se estais tão triste
Interfiro em todos os teus passos
E choro como companheiro
E prometo que jorrará em ti dias melhores
E faço-te nossos momentos
Faço-me a lembrança de uma serpentina, minha menina
E escolho o teu sorriso como recordação
Que aconteça com naturalidade
Que seja enorme como foste para mim, nobre mulher.

Ciro disse...

Legal, Leo. Esgarçado. Esganiçado. Esfarrapado. Estrambolhado.

Lembra a música "palhaço", do Nelson Cavaquinho, só q pós-moderno, claro :):

Sei que é doloroso um palhaço
Se afastar do palco por alguém
Volta, que a platéia te reclama
Sei que choras palhaço
Por alguém que não lhe ama
Enxuga os olhos e me dá um abraço
Não te esqueças, que és um palhaço
Faça a platéia gargalhar
Um palhaço não deve chorar