25/08/2010

Sobre a casa

A poeira sobre o móvel da sala
Fala mais do tempo
Que da sujeira.
O móvel antigo
Já a vê como amiga.
Quase sinto pena de espaná-la.
***
À noite,
Bailam nos azulejos do banheiro,
Baratas festivas
Que não se apavoram nunca.
***
Faço companhia à solidão do meu quarto,
Nunca me senti vazia,
Mas minha cama sim.
***
A chuva segue fina e quente,
Tudo tem tom de despudorada alegria,
Desde a casa cheia
Até a panela vazia.

5 comentários:

Léo Tavares disse...

gosto especialmente da segunda e da última. talvez pela atmosfera de abandono instaurado. a casa como metáfora do íntimo, apesar de recorrente é algo que me agrada. como sempre, o lirismo revestido pela simplicidade. o olhar poético sobre o banal torna as coisas mais esquecíveis passíveis de contemplação, e aí elas se resignificam e ganham proporções inusitadas. enfim, gostar de ter esse poder de síntese, dispensar todo o aparato ornamental e conseguir esse efeito. quando estou para delacroix, fabiana está para courbet. hehe
:o)

Nexo Grupal disse...

Fabi,
quanto aos dois primeiros:
feng shui neles!
quanto ao último:
duca!
Mateus

Anna K. Lacerda disse...

Fabi sobre a casa, sob a casa!

A contemplação
Silenciosa
Grita
Nas frestas
Nos cantos
Nos vãos

Em vão
A impotência
Perante
O notívago

Apago a luz
Para ver melhor
E a casa
Finge
Que dorme

Adeilton Lima disse...

Bela reflexão sobre a solidão. A dor é transformada em lirismo, portanto, um possível sofrimento se esvai...

Anônimo disse...

Lindo!
Verus.