Eu durmo com os sons da cidade por dentro.
É um sono inquieto, desprotegido.
Ainda não me acostumei.
Pensei que era melhor ser rio ou lago, do que gente,
Pra descansar de noite,
E ter o peito manso e morno.
Um rio só anoitece com o coração estufado de pássaros.
E os braços se aquietam para noturnos abraços
Quando as estrelas vêm dar às sonolentas águas,
Um arrepio de luzes.
Um espelho do firmamento
Onde a lua flutua, vaidosa
E os peixes nadam entre os astros.
É um sono inquieto, desprotegido.
Ainda não me acostumei.
Pensei que era melhor ser rio ou lago, do que gente,
Pra descansar de noite,
E ter o peito manso e morno.
Um rio só anoitece com o coração estufado de pássaros.
E os braços se aquietam para noturnos abraços
Quando as estrelas vêm dar às sonolentas águas,
Um arrepio de luzes.
Um espelho do firmamento
Onde a lua flutua, vaidosa
E os peixes nadam entre os astros.
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Imagem: Starry Night Over the Rhone, Vincent Van Gogh, 1888 (Musée d'Orsay)
5 comentários:
Seu poema me lembrou esse trecho do Blanchot quando ele se referiu ao Rilke: “ o meu interior está cada vez mais fechado como para proteger-se, tornou-se inacessível para mim mesmo e agora não sei se no meu centro ainda existe força para entrar nas relações do mundo e realizá-las, ou se, lá dentro, não se terá silenciosamente conservado senão o túmulo de minha alma de outrora”...
Seria bom mesmo ser um rio ou um lago, ou mesmo o reflexo de astros sobre a noite espelhada nas águas da noite. As águas reservam um “valor” de inconstância, mas revelam uma restauração do oculto; talvez seja quando contemplamos a superfície, mas tendo a certeza do profundo que é tão obscuro e instigante que nos assusta. E queremos apreender as imagens das águas, as imagens da noite, das luzes e de um coração alado, “estufado de pássaros”. Queremos a profundidade da intimidade, da liberdade e do silêncio do invisível. “Através de todos os seres para o único espaço: espaço interior do mundo. Silenciosamente voam as aves através de nós. Ó eu que quer crescer, olho para fora e é em mim que a árvore cresce”.
Muito sensível e bonito seu poema! Esse é um dos quadros que mais gosto do Van Gogh.
Kybelle.
belo poema, Leo: "A alma é o único pássaro que quando voa levanta a gaiola", Goethe. Vi este verso outro dia num espetáculo e fiquei pensando nesses poetas, tão grandes, mas tão pouco lidos hoje em dia... Outra frase que me arrebatou esta semana, do Holderin, em um livro encontrado por acaso na BCE: "o homem é um Deus quando sonha, mas é um mendigo quando reflete". abraços a todos, Eiliko.
o que inquieta é o dentro que deveria fazer-se o envolver de fora.
é engraçado ver um anônimo (a) falando isso...
anônimo, de que outro anônimo vc está falando? rs
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