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o sol que surge
dissipando a névoa
da noite no paranoá
não vai destruir fácil
as cicatrizes da noite
que perdura pelos cantos
se cantos houvesse
solidão
lágrimas no pó
falta
de mar
...........apesar do seu campeonato de surf
de bar
de chances de descobertas
de afinidades eletivas
secura adentro
nas frestas da memória
saudade de casa
cosmópolis provinciana
ignoro
seus prédios espelhados
a la dallas mata passarinhos
sua briga entre arquitetos e engenheiros
entre caixotes e curvas no ar
entre a utilidade e a beleza
o tiro no pé na caserna
a louvação à operação condor
meninos ainda rezam em ak-47
quando o choro do clube
for de alegria
quando o clube for o anticlube
o aberto o da esquina
quando se espalharem o plano
das cidades parques
sem muros e grades
teus cobogós
quando os ciclistas
e pedestres tiverem vez
quando a cesta básica
tiver um livro
quando forem
abertas as casas
todas as portas
do coração
quando o amor
entrar na bandeira
quando a bandeira
for apenas a da porta-estandarte
a lenda do eterno berço
do país do futuro
se quebrou
a alvorada adentra a tarde
nasceu uma flor de asfalto
espanto erguido no ar
a esperança venceu o medo
despertam bromélias
o sonho sebastianista
de dom bosco
a riqueza inconcebível
...................aiainda para poucos
no lusco fusco
as sombras da contrarreforma
as sobras da falta de razão
capitanias hereditárias
o corporativismo o coleguismo
a brodagem a família
a religião
o apadrinhamento
apertos de mãos
tapinhas nas costas
fala baixo
o jogo encenado
as cartas marcadas
os signos escondidos
dos incautos súditos
o público privatizado
a regra do puxadinho
o temor reverencial
o culto à hierarquia
o respeito à gravata
ao carimbo
o prazer do poder
tal e qual uma falta de carinho
pra quem precisa de atenção
quanto de seus buzus
têm de navios negreiros?
ratos de comissões
urubus de funções
mendigos de bolsas
o sol a iluminar
as pedras evoluídas
não nasce fácil
parto difícil
barulhento
como uma sinfonia de buzinas
o artifício dos kalungas
sugere uma luz sutil
enquanto cresce a teia
do canto dos galos
até o conforto dos óculos escuros
o recado pelo muro
não é mais necessário
dos sapatos
ficam só os rastros
eldorado dos concurseiros
tuas dondocas de dourado
teus novos ricos
tuas alpinistas sociais
tuas putas discretas dos gabinetes
teus motéis lotados na hora do almoço
cadê tua camponesa?
teu parnaso é sertanejo?
outro amanhecer que não o do vale
és glauber tomando café da manhã
pelado no hotel nacional
és uma mulher inteiraça
com um tribal no rego
calangando nas pedras
da morada do sol
és uma senhora derrubada
mijando nas águas quentes
de caldas novas
és uma latinha boiando no poço azul
és um santo jogando dinheiro do alto do banco central
és duas mangas carlotinhas
a estufar a camiseta preta punk
os afogados da piscina de ondas
cadê teu neguinho do oludum
tua santa tereza
tua cidade velha
tua cidade baixa
teu centro
tua cidade?
o conic não basta
tanto espaço
e tão poucos lugares
o sol ainda não está a pino
não chega a todos as quebradas
mas já se sugere no campus
com as confrarias e tudo
o fogo no rabo do pereira
no porão do rock
e como se levar a vida na flauta
fosse um imperativo categórico
a luz tênue
na flauta nos dedos dela
nas gaitas e bandolins
o tempo infante
em tuas matemáticas
destinadas a viver melhor
a lâmpadacesa madrugadentro
asa delta
pousando no monumentalbeirute com hora pra fechar
com uma peixeira
no afã de rasgar
de abrir uma fenda
brecha pro húmus
hiedra água
tiro faíscas do concreto
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6 comentários:
poema nitidamente em progresso, espero os pitacos pra ir melhorando,
gostei, é bem forte. não tenho sugestões, tá bem incorpado. eiliko
Uma poesia literalmente brasiliense... Mas fiquei em dúvida entre o mateus e o adeiton... os estilos às vezes se confundem...
Menezes
UAU!
ADOREI MATEUS!
BELO!!!
bic
Realmente fantástico. Agora relendo, é poesia discursiva sem perder o lirismo. Matou a pau, mateus. O melhor poema sobre brasília que já li, certamente. Crítico, ácido, cheio de imagens e protestos, social, intimista, voyeur, escrachada, sem vergonha. valeu mesmo.
Menezes
como já tem tempo que não mexo no poema, indicando, ao que tudo indica, uma possível aproximação do final da sua maturação, deixo aqui registrado algumas referências, citações, paráfrases, samplers, e coisas que tais, de paulo henriques britto, jim morrison, breton, turiba, waly salomão, vinícius de morais, jards macalé, drummond, lula, nicolas behr, marcelo yuka, chico science, jorge antunes, joão cabral, raul seixas, ligatripa, josé paulo paes, luis fernando veríssimo, cachorro das cachorras, odette ernest dias, gabriel grossi, hamilton de holanda, paulo leminski
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